Sobrinhos do Ewald

Locutor da Sessão da Tarde : Uma galerinha do barulho apronta as mais loucas aventuras comentando tudo sobre cinema como você nunca viu !

Friday, November 04, 2005

Diário da Mostra Estrelar - Dias 7 e 8




2046 - Os orientais me decepcionaram nessa Mostra. Muito. Devia ter desconfiado do esperado "2046". O diretor é o chinês Wong Kar Wai, de "Amor a flor da Pele", que eu já não tinha gostado em nada. Aliás "2046" é uma espécie de continuação de "Amor...", e só por isso eu já não deveria gostar. E só Deus sabe porque eu não associei as coisas. Algum crítico idiota falou que era uma "revisão de Blade Runner oriental" e eu acreditei !!! Um dos maiores absurdos que eu já ouvi. Mas enfim, vamos ao filme.
Neste filme, Chow, que no anterior queria ser escritor, virou efetivamente um escritor, e seu primeiro livro é uma história futurista passada em 2046 onde um "trem de emoções" analiza os relacionamentos humanos. 2046 também é o número do quarto onde os dois amantes se encontravam no filme anterior, e Chow usa essas lembranças como base para o seu livro. O ator principal é Tony Leung Chiu Wai (de "Hero"), que manda bem, mas não é suficiente para segurar o filme. A narrativa amarrada de Kar Wai cansa - e muito - e dá a nítida impressão que não tinha roteiro suficiente para o filme. Por diversas horas o filme é chato e dá sono, muito sono.
Qualquer crítica positiva que você encontre a esse filme, é mentira. Grossa.


Oliver Twist - O novo do Roman Polansky é bonito, competente e com o tempo levará o mérito de ser o filme mais esquecível do diretor. Por ter sido o mesmo que fez "O Bebê de Rosimary", "Chinatown", e o genial "O Pianista", "Oliver Twist" será uma boa sessão da tarde no futuro. Mas como disse, o filme é bonitinho, principalmente pelo elenco que tem o jovem Barney Clarke muito competente no papel de Oliver e Ben Kingsley genial, irreconhecível como o caricato Fagin. O filme é uma adaptação de um conto do inglês Charles Dickens - com roteiro de Ronald Harwood, o mesmo de "O Pianista" - e é um filme bem "inglês" por assim dizer (Pouca gente vai entender esse comentário), com aquelas passagens não muito coerentes para quem não conhece os hábitos dos inglêses. A história é sobre o pobre garoto orfão Oliver Twist que escapa da uma casa para qual ele foi "doado" (é, os orfãos eram vendidos) e parte para Londres para viver no submundo do crime inglês. Um bom filme do Polansky, uma história bonita, um bom elenco...E nada demais. Ainda não consigo dizer se o Polanksy é um gênio, ou é um bunda.


Seven Swords - "Qi Jian", Coreano e ruim, muito ruim. Uma tentativa de ser um novo "Hero", um novo "O Tigre e o Dragão"e não passa de um Jiraia mal feito. O diretor chinês Hark Tsui chupou discaradamente "Sete Samurais", clássico do Kurosawa : Na antiga China o Imperador decreta que todos os que praticam artes marciais devem ser eliminados. Para isso, claro, ele tem um exército que ganha por cabeça dos mortos. Sete cidadões de uma aldeia que está para ser atacada recebem 7 espadas "mágicas" com as quais eles conseguem se proteger do terrível exército. Muito fraco. O começo do filme me lembrou os primeiros episódios de Lion Man, com cenas de sangue típicas de filme B. Incrivelmente ruim, tem uma ou outra boa tomada de luta, e só. Roteiro confuso e vazio, atores muito fracos - até mesmo o bom Donnie Yen de "Hero" - e a fotografia, que costuma ser o melhor nos filmes asiáticos (não japoneses) horas acerta, horas é horrível. Enfim, não vel o tempo perdido. Outra decepção com os orientais nessa Mostra.


Incautos - Mais uma bela surpresa dos latinos, que filmaço ! Na mostra estava rolando uma série de "homenagens" e entre elas a atriz espanhola Victoria Abril estava em diversos filmes da mostra. "Incautos" é espanhol, tem a direção de Miguel Bardem e o elenco - que me parece ser ponto comum entre os latinos - é ótimo. Além de Abril, tem Ernesto Alterio no palpel principal e Federico Luppi - no papel de co. Curiosidade que cada um usa seu nome verdadeiro no filme, Ernesto e Federico. O filme tem todo jeitão de "Onze Homens e um Segredo", tem ritmo, tem fluxo... Tá, tem uns furos de roteiro, mas quem liga ? O que importa é que é bem divertido. O filme conta a história da vida de um trapaceiro, Ernesto, e o maios golpe que ele já deu na vida. No caminho ele aprende as dicas do ramo com Manco (Manuel Alexandre, também ótimo) e Federico - o maior trapaceiro da história. Não esperava nada desse filme a acabou sendo um dos melhores na mostra. Muito bom.

Recomendados por amigos : El Aura, Mooladé (Filme Senegalês !!!),Sra Henderson Apresenta, Flores Partidas, O Inferno.

Não recomendado por amigos : 2046, Batalla en el Cielo, Willenbrok, Eleição, Where the Truth Lies.

Tuesday, November 01, 2005

Diário da Mostra Estrelar - Dias 5 e 6



Habana Blues : Uma das boas surpresas da mostra, começando pelo ingresso que eu ganhei de uma desconhecida na fila do cinema. Ainda existe gente bacana no mundo ! E o filme é muito bom ! Filme cubano que conta a história de uma banda, o Habana Blues, liderados por dois grandes amigos Tito e Ruy. Vivendo sob as complicadas condições de Cuba, ambos sonham em fazer sucesso comsua música e serem levados para fora do país. De uma história que teria tudo para ser bobinha, vira uma boa e grande surpresa e você se pega envolvido com os personagens e no final da história até batendo o pé junto com a música. Grande parte da boa aceitação do filme está no casting impecável. Os atores são ótimos, muito carismáticos e competentes, o que os torna cativante imediatamente. Ambos seguem a linha do "malandro cubano", um mulherengo o outro trambiqueiro. Alberto Yoel faz o papel de Ruy e Roberto Sanmartin faz o papel do impagável Tito. Destaque também para Yailene Sierra que faz o papel de Caridad, a esposa de Rui. Filme de Benito Zambrano, filmado totalmente em Cuba. Muito boa surpresa.

Manderlay : Vou comentar sobre esse filme melhor depois. Em um primeiro momento não sei bem o que achar dele. Pra quem ainda não sabe (o que me parece impossível pelo "hype" que esse filme teve na mostra) é a continuação de "Dogville" do Lars Von Trier, que não consegui praticamente ninguém do filme anterior. A idéia é fazer uma trilogia criticando o "American Way", e nesse filme o assunto é Racismo.

De cara : Nicole Kidman faz falta, acredite. Bryce Dallas Howard, que a substitui não deixa a peteca cair completamente, mas não é a Nicole Kidman, acredite. Quem diria. Bem, outra : o Michael Cann faz falta. O cara já nasceu gangster. Quem faz as vezes dele aqui é o bom, mas exagerado, William Dafoe. Mas o filme está baseado nos talento de Dallas Howard e o veterano Danny Glover. Porém é complicado dar ritmo no filme, uma vez que o Von Trier não fez nenhuma inovação. E talvez por isso eu não tenha gostado tanto em um primeiro momento.

"Dogville" é legal porque é inovador. A narrativa é interessante, a idéia de não ter cenário é legal, se basear quase que totalmente no talento dos atores e do texto genial...Mas todo mundo esperava algo novo em "Maderlay". E...É a exata continuação de "Dogville" mesmo, sem tanto brilhantismo dos atores (apesar do Glover ser legal). O texto continua bem feito.

Desta vez Grace, saindo de "Dogville", para em "Manderlay", onde uma escrava pede ajuda para um escravo que está sendo chicoteado. Disposta a ajudar - sempre - Grace utiliza os gangsters do seu pai para conseguir a liberdade dos escravos. Nesse meio tempo, a dona da Fazenda, já com certa idade, morre e pede um "último favor" a Grace. Os escravos, que deviam estar contentes por conseguir a liberdade, passam a ter os novos problemas do "direito adquirido". Grace resolve ficar no local para garantir que tudo vai correr bem com os escravos. É o racismo mostrado de todas as formas, nos negros para os brancos, dos brancos para os negros, etc.

Se você não gostou de "Dogville", passe longe. Se você gostou, não espere muito.

Recomendações dos amigos : Clube da Lua, O Elo Perdido, Acusado, Napola - Antes da Guerra, Brothers, A criança, Eu, você e Todos Nós, Palavras de Amor, Heróis Imaginários, Mistérios da Carne.

Não-Recomendações dos Amigos: Lemminng - Instinto Animal, O mundo, Caché (sim, super "hypado", do Michael Haneke, dizem que não lembra nem de londe a genialidade de "Professora de Piano"), Uma mulher contra Hitler, Uma vida iluminada, Bye Bye Blackbird, Os primeiros na lua.

Monday, October 24, 2005

Diário da Mostra Estrelar - Dias 3 e 4


Meu encontro com Drew Barrymore : Antes de mais nada, eu errei o cinema. Juro. Era pra eu ir para um shopping e minha incrível capacidade de direção me levou para o outro, do outro lado da cidade. Diz o ditado "Está no Inferno, abraça o capeta", lá fui eu ver "My Date with Drew", com as expectativas baixíssimas. E talvez por isso a experiência não tenha sido tão ruim assim. O filme é um documentário idiota nos moldes de "Super SizeMe", mas que dessa vez tem como enredo um cara que é tarado na Drew Barrymore - sim a menininha de "E.T." e hoje mais conhecida por ser uma das "Panteras" - que ganha um programa de quiz cuja resposta final era "Drew Barrymore" e ele resolve investir a grana do prêmio - fantásticos U$ 1.100,00 - para conseguir marcar um encontro com a sua "amada".
Cara, parece trabalho de faculdade de cinema. Sério. Mas foi bem editado - para um documentário - e o diretor / ator principal Brian Herzlinger é um cara engraçado. Dei umas boas risadas com ele - o americano paranóico comum, pensando em como seria encontrar a Drew Barrymore e tentando para isso fazer uso da teoria dos "6 graus de separação".
É um "documentário" por assim dizer, como eu falei é independente total, parece um trabalho de faculdade. Rendeu até site : http://www.mydatewithdrew.com . Pô, eu achei engraçadinho. É claro que pra quem foi ver "Oliver Twist" do Polansky acabar assim não é tão bom, mas enfim...

A Passagem : Na hora que o filme terminar, eu duvido que você não vai pensar em um bom palavrão, daqueles bem cabeludos, pra xingar a mãe que colocou o infeliz do tradutor do título no mundo. Não vou me aprofundar, mas sei que vai pensar. O título original, "Stay", era muito mais bonito. Deixassem "Stay" mesmo, pra poucos entenderem, sei lá. Mas não precisava fazer isso. Seria como mudar o título de "O Sexto Sentido" para "Bruce Willis está morto".
Mas enfim vamos ao filme.
Tem cara de Mainstream, é meio Mainstream (20th Century Fox), mas tem linguagem de filme B. Tem uma fotografia e edição muito legais, as passagens de cena são uma viagem, e por diversos momentos o diretor Marc Foster ("Em busca da Terra do Nunca") brinca com a edição para confundir o espectador. No elenco o sempre competente Ewan McGregor e a queridinha de 10 entre 10 cinéfilos Naomi Watts. No filme, McGregor é um psiquiatra que tenta evitar que um dos seus pacientes cometa suicídio - já pré marcado para um Sábado a noite. No meio do caminho, esse paciente se mostra um "vidente" e a vida de McGregor vira de pernas para o ar. Basicamente é isso, e apesar do roteiro padrão com cara de Kinder Ovo (e ter uma surpresa no final) o filme te prende, você fica ansioso para saber o que vai acontecer ou pior : o que está acontecendo. Entra em cartaz em 25 de novembro.

Recomendados pelos amigos : "Beijos e Tiros" (Kiss Kiss Bang Bang), "Good Night and Good Luck" (do George Clooney) e "Finais Felizes" (Happy Endings).

Saturday, October 22, 2005

Diário da Mostra Estrelar - Dia 2


O Fim do Mundo/Namorados : Filme Japonês longo e chatérrimo, que seria um filmaço se tivesse uma hora a menos. Apesar de belas cenas, o roteiro era vazio, não aprofundava todos os personagens, e cansava. É diferente de outros japoneses, e melhor do que a maioria, mesmo assim é cansativo. A história é de uma garota que termina com o namorado e vai viver na casa de dois amigos. Um deles se apaixona por ela, mas não querem "estragar a amizade" - o que aliás é o tema do filme. Quando você descobir porque do título "O fim do mundo", você vai querer que ele chegue amanhã.


Em minha terra : Começa com cara de Superprodução e termina com cara de que acabou a verba e "deixa os microfones mostrando mesmo que ninguém tá percebendo. Editar ? Pra que ? O que é isso ? Deixa assim, tá bom. Nõs temos o Samuel L. Jackson e a Juliette Binoche". Chega a ser ridículo. E tinha tudo pra ser um filme excelente. Filme denúncia americano / sul africano que conta o julgamento dos militares na Africa do Sul após o Apartheid, com os depoimentos de familias das vítimas. Se você conseguir se desprender dos erros crassos do filme, como esse lance de aparecer o microfone - EM VÁRIAS CENAS !!!!- a história é legal. Mas faltou muito pra ser um filme bom. Nem os talentos de Jackson e Binoche seguram o filme. A narrativa - assim como a produção - começam bem, mas no final, realmente fica parecendo que o dinheiro acabou e precisavam terminar de qualquer jeito. Uma pena. Uma história boa - baseada em um livro e fatos reais - mal executada.

Recomendados por amigos no 2º dia : -"A history of Violence" (Marcas da Violência) - o novo do Cronenberg, com Viggo Mortensen e o coro de "Oscar nele";-"Stay" (A Passagem) - Cujo título em português spoila total o filme;
Não recomendados por amigos no 2º dia :- "Free Zone" - Israelense e Chato.

Diário da Mostra Estrelar - Dia 1


"Estrela Solitária" : começando assim a mostra com o pé direito. Puta filme bom, com trilha sonora impecável, fotografia belíssima e Sam Sheppard - roteirista e ator que já trabalhou com Wenders - arrepiando no papel de um atopr em decadência que resolve dar razão a sua vida fútil, quando no meio do caminho descrobre que tem uma "familia" com filhos perdidos pelo mundo e decide então encontrá-los.
Até então a última coisa boa que o alemão Win Wenders tinha feito era "Asas do Desejo" de 87. Antes disso "Paris, Texas" de 84. Ambos com roteiros assiandos por Sheppard, protagonista e roteirista deste também. O filme ainda tem Jessica Lange e Tim Roth. É uma crítica ao estilo vazio dos americanos, contado daquela maneira que só Wenders consegue fazer : loooongo demais. Podia ser mais curto. Mas ele consegue fazer um bom apanhado dos personagens, e faz com que você crie uma empatia pelo velho ator em declínio, mesmo sendo um sujeito imoral e vazio. Wenders consegue fazer personagens completamente desinteressantes terem interesse.
Não é o melhor do Wender, mas é bom. Dizem que ele precisa voltar pra alemanha para fazer bons filmes novamente, que essa influência anti-americana não está fazendo bem pra ele. Não sei, mas aqui ele acertou a mão. Gostei do filme. Só o título em português novamente foi infeliz. "Don't Come Knocking" é o original. Filme Alemão / Americano com cara de Indie. Essa mostra promete.
Recomendados por amigos no 1º dia : "Thumbsucker" (Impulsividade) - independente americano, com Keanu Reeves e Vince Vaugh;
Não recomendados por amigos no 1º dia : The Great White (que ficou com o incrível nome sessão da tarde de "Quem É morto sempre aparece", americano muito ruim com Holly Hunter, Woody Harrelson e Robin Williams.

Os Meninos do Chicão


Até o último momento, eu relutei. Calafrios me tomavam assim que muitoa amigos - e conhecedores de cinema - vinham me falar que "2 de Francisco" era bom. Eles calafrios tornaram-se terror puro assim que descobri que corre o risco deste filme ser o primeiro filme nacional a ganhar o Oscar. Imagine, a história de Zezé de Camargo e Luciano premiado pela academia.

Em tempo : eu não gosto de música sertaneja. Nada. Alguns eu respeito, mas eu não gosto. E o filme é regado de música sertaneja, por motivos óbvios. E pra piorar, até o Caetano Veloso canta música sertaneja. Dá pra imaginar coisa pior que o Caetano cantando, e ainda música sertaneja ? Pois é, aconteceu.

E assim, cabreiro, finalmente assisti o filme. E tenho que engolir o meu orgulho : o filme é bom. Não é uma obra prima, claro, mas é bom. Mesmo pra quem não gosta de música sertaneja.

Não tem o que falar da técnica. Quem é o diretor, Breno Silveira ? Ninguém. Assinou, sem mérito algum, a produção do filme do Casseta & Planeta. Pode ? E aqui ele foi abençoado pela escolha do excelente elenco, onde até a fraca Dira Paes faz bem o papel de Helena, a mãe da dupla. O resto não vale a pena comentar. Fotografia ruim, típica de filme nacional, o vergonhoso título de "Zezé de Camargo & Luciano Produções", a edição feita como seriado da Globo...Mas com a surpresa do áudio bom, uma ilha em filmes nacionais.

O destaque é mesmo o cast. Ângelo Antônio no papel de Francisco, o jovem Dablio Moreira no papel do Zezé de Camargo ainda criança, Paloma Duarte no papel de Zilú (que nem fede e nem cheira no filme, assim como a tal Zilú) e Márcio Kieling que consegue a proeza de ser parecido com o Zezé de Camargo - o que não é algo necessariamente bom. Ainda tem tempo pra caber um Lima Duarte fazendo uma participação especial. E esse cast leva o filme nas costas.

Bem narrado, o filme passa rápido, pois tem cadência. A trilha sonora combina com filme chegando e saindo nos momentos certos. O drama na dose certa, sem a apelação total que a gente espera pela história. Tem apelação ? Tem claro, mas o necessário. Para os gringos, o filme vai ser melhor ainda, pois não têm aquele histórico da dupla sertaneja que eu e você temos (salvo se você gosta de duplas sertanejas) .

Enfim, dói admitir, mas é bom mesmo. Como falei, nada sobrenatural e final do filme totalmente descartável, mas leva uns pontos por em diversos momentos me fazer esquecer de "quem" estavamos falando.

Friday, October 21, 2005

O Senhor dos Referendos sobre as Armas


Em toda sala de aula sempre tem um "Zezinho", aquele aluno metido a engraçadinho que faz piada com todo e se acha o rei da cocada preta. Quando cresce ele vira tradutor de título de filmes. E assim aparecem pérolas como essa : de "Lord of War" vira "O Senhor das Armas". O cara deve ter se achando "o criativo" já que está rolando todo esse burburinho sobre o referendo das armas, nada melhor do que um "trocadalho do carilho" como esse. Aposto que foi o mesmo cara que traduziu "Fé demais não cheira bem".

Sobre o filme, temos o sempre competente Nicholas Cage em um papel imoral e sujo - e muito legal justamente por isso. Cage é Yuri Orlov um judeu que tenta a vida nos EUA honestamente, mas que de repente se vê melhor na vida traficando armas. A maior parte do filme é em narrativa off. Muita gente já pode não gostar por isso. O diretor é meio "Sodenbergh wanna be", o novato Adrew Niccol, que assinou coisas boas como o injustiçado "Gattaca" e o terrível "S1mOne". Como produtor ele também já assinou "O Terminal" (não consigo me decidir sobre esse filme) e o bom "O show de Truman". Aqui, ele também assina o roteiro, e manda bem.

O legal do filme está mesmo calcado no mau carater Orlov. O filme não é uma sustentação política de nada. Se você quiser dá pra te deixar "pensativo" quanto ao lance das armas, mas a idéia do filme claramente não é essa. Tudo gira em torno das crises de consciência (ou não) do protagonista, e como ele encara os fatos da vida decorrentes de sua escolha. A não ser que você seja realmente traficante de armas, a mensagem não ser para você. Vamos levar em consideração também que eu adoro um Anti-Herói, que é bem o caso aqui.

Se for pra concluir se o filme é anti ou a favor das armas, fica mais claro ver que o filme é anti-EUA. E essa é uma critica indireta no mínimo interessante, pra quem quiser prestar atenção.

Filme que não acaba bem, é contra os EUA e tem o Nicholas Cage só pode ser garantia de um bom divertimento.

O Jardineiro Meirelles



Depois de assisir "O Jardineiro Fiel" fiquei pensando o que me levou a achar esse filme bom. Na verdade, muito bom. Será que foram minhas expectativas baixas, uma vez que eu não acreditava muito nessa onda dos diretores nacionais tipo exportação, como o Fernando Meirelles e o Walter Salles ? O Salles inclusive entrou bem com o seu "Dark Water", mesmo tendo cara de super produção e a belíssima Jennifer Connely no papel principal. Porque "O Jardineiro..." deu certo e o "Dark Water" não ? Bem, primeiro que o "Dark Water" é uma remake de um terror asiático, coisa que já anda batida no cinema, com roteiro fraco e interpretações médias por se tratar de um suspense / terror. Só por aí, Salles já entrou bem. Não foi um fiasco total, mas foi quase. "O Jardineiro Fiel" é um filme denúncia. E só por isso caminhava para ser outro fiasco. Ainda por cima, antes mesmo do Meirelles, Ralph Fiennes, um ator muito mais lembrado pelo bonito mas chatérrimo "O Paciente Inglês" do que as boas participações em "A Lista de Schindler" e "Dragão Vermelho" já estava escalado como protagonista. Talvez isso viesse a calhar com o título do filme que tenta mostrar a passividade dos inglêses em relação aos seres humanos, onde o cara dá muito mais valor para o Jardim dele, super bem cuidado, do que para a própria esposa - típico dos inglêses mesmo. O Fiennes tem cara de quem faz isso mesmo. Tranquilo - até demais - passa o ar de "bobalhão" muitas vezes durante o filme. Pra ajudar a esposa de Fiennes no filme seria representada pela Rachel Weiz, que sempre será lembrada por ter feito "A Múmia". E isso embaixo de fofoquinhas dizendo que o Meirelles dispensou a Nicole Kidman para o papel - uma tremenda mentira, sem contar que o Meirelles não é louco o suficiente pra isso. Não dava pra levar esse elenco a sério. O pior de tudo : a sombra de "Cidade de Deus" na vida do Meirelles. O filme foi tão, mas tão bom que vai virar um parâmetro eterno de comparação com qualquer coisa que ele faça. Nesse filme mesmo, o comentário geral é que é um filme muito bom, mas "Cidade de Deus" é melhor.
Mas então porque deu certo ?
A resposta é simples : Meirelles é bom. É muito bom. Ele deixou o filme andar, respirar por sí só, conversou muito com os atores, deixou eles criarem e a composição dos personagens ficou simplesmente perfeita. Fiennes ARREBENTA do filme. Do bobalhão burocrático ao investigativo questionador, ele vai te causando diferentes sentimentos. Hora você odeia o personagem, hora você sofre com ele, hora você acha ele um gênio. Meirelles dosou a trilha sonora, foi filmar no Quênia - que tem um "q" de Brasil - usou os truques de câmera e fotografia que ele já havia utilizado em "Cidade de Deus" (Aliás, levou o mesmo fotógrafo, e quem fez a montagem foi a mesma pessoa que fez "Platoon", imagine) com sabedoria e mesmo apesar de determinados momentos o filme ser tremido demais, conseguiu uma fotografia belíssima, em um cenário genial. Com isso tudo, o Meirelles cortou só 12 minutos do filme na ilha de edição. 12 minutos ! Ele não gravou qualquer coisa pra depois salvar o filme na edição ! E só por isso ele já é muito mais do que simplesmente "bom". RAchel Weiz consegue fazer o mesmo que o Fiennes e levar o público por diversas transições do personagem, tudo isso muito sutilmente.
Eu achava que ia ser um filme discurso chato, que contava a história de uma ativista política que se envolve com um diplomata britânico. E só. E de repente, logo no começo do filme ela é assassinada, e o seu marido passa a descobrir muitas coisas após a morte dela - pessoalmente e profissionalmente - e percebe que estão dificultando as coisas para ele descobrir de fato o porque da morte de sua esposa. Tudo isso passado de uma maneira sutil e incrivelmente bem narrada.
Não sei se o filme lava algum Oscar, mas merecia ser indicado, no mínimo o Ralph Fiennes e a fotografia. No mínimo.

Thursday, October 20, 2005

Me Mostra o seu que eu Mostro o meu !



Ah, o ar puro de um novo blog....O iniciar de uma nova vida...Tudo novo, vida nova ! E enquanto espero minhas amigas chegarem para compartilhar esse cantinho, pensei em divagar sobre a 29ª Mostra de Cinema de São Paulo. Ao longo dos anos de Mostra fui adquirindo algumas experiências - nem sempre tão boas - de como tentar evitar as barcas furadas que a mostra proporciona de vez em quanto. Tem gente, como a Gilly, que é cuidadosa, vai de filme em filme, pesquisa o diretor, vê a referência no IMDB, vê o cast, vê da onde é - se for francês então, segura a menina...

E tem uns aventureiros relaxados como eu, que não pode ver um chinês voador que já está dentro do cinema. Muitas vezes ví coisa muito, mas muito ruim na mostra. E é isso que quero compartilhar com vocês. Essas "dicas" do que eu costumo levar em consideração antes de encarar a aventura de um filme desconhecido. Não são exatamente "regras, pois volta e meia eu ainda entro bem, mas lembre-se do popular "faça o que eu falo, não faça o que eu faço". São 5 dicas básicas:

1 - Filme nacional ? Nem pensar.
Passo longe de filme nacional na mostra. Muito longe. Primeiro porque a grande boa maioria vai entrar em circuito depois. O que não entrar é merda liquida total. Volta e meia aparece um bom curta, mas meio cabeça demais, meio mal feito demais, parecendo trabalho de estudante de curso de cinema que quer ser descolado. São poucos os bons. Como diz um amigo meu : "Filme nacional eu vou riscando da lista. Quando acaba, eu volto pro começo e risco de vermelho para dar ênfase";

2 - A Europa é grande. Cuidado.
Tem apostas certas em filmes europeus : os inglêses, dinamarqueses, noruegueses, suecos e boa parte dos alemães são quase garantia de boa diversão. Mas isso não é uma regra, lembre-se. Boa parte das vezes vale a pena sim. Agora, esqueça qualquer coisa do Leste Europeu. QUALQUER COISA. Os Italianos também não andam bem das pernas há muuuuito tempo. Filme português eu não consigo levar a sério - e vai rolar uma homenagem ao Manuel de Oliveira nessa Mostra, fique atento para perder tudo - e os filmes franceses (ai,ai, Gilly não me mata...) se não forem de corno, normalmente não gosto. Francês é especialista em fazer filme de corno ultra depressivo. Que "Closer" que nada. Vai ver "5x2" e me fala o que é filme de corno de verdade;

3 - País pobre só sabe reclamar.
Os incultos que dizem gostar de cinema e acham que o melhor diretor do mundo é o Spielberg porque é o único que eles conhecem, também gosta de dizer que "cinema arte" é esses filmes chatos de criança iraniana sem braço chorando no meio do deserto cercado de urubus durante 2 horas de filmes. É claro que não é nada disso....SE não for um filme de país pobre, que resolve fazer um "filme-social" e falar de questões comoventes do seu país. Isso vale para o Brasil também, mas um ótimo motivo para passar longe de filme nacional. Filme cabeça político social não dá. "Favela Rising" nessa mostra é um exemplo disso.

4 - Os Americanos não são donos do mundo.
Filme americano na mostra tem quase 90% de chance de entrar em cartaz depois no circuíto. São sessões lotadas na mostra que depois fica às moscas no circuíto. Uma boa dica pra ver se o filme vai entrar ou não em cartaz é ver a programação da mostra e conferir se as legendas são eletrônicas ou já estão no filme. Se não forem eletrônicas, anote : vai entrar em cartaz. Além disso, os americanos tem muitos filmes independentes, que você pode ter uma idéia de como são pelos comentários do festival de Sundance - que rola sempre antes da mostra. Nunca ouviu falar do filme ? É uma merda. Essa regra nunca falha.

5 - Asiáticos são pra poucos. Talvez poucos demais. Talvez só para os Asiáticos mesmo.
Sou suspeito para falar, pois minha maior procura na mostra são pelos asiáticos. Só que tem limites. Tem muita gente - da qual não faço parte - que não gosta de filme de chinês voador, por exemplo. Nem todo mundo entende a narrativa de um filme japonês, ou gosta das interpretações exageradas dos coreanos. Nem todas história dos asiáticos são boas. Dê uma lida na sinopse antes. Se for completamente sem pé nem cabeça, passe longe. Vai por mim. Tem que ter um mínimo de história.

Minha grande frustração nessa mostra foi "Sympathy for Lady Vengance" do diretor coreano e gênio Park Chan-Wook - de "Oldboy", o meu destaque da mostra passada -, terceiro e último filme da Trilogia da Vingança, não veio. De resto, pelo que eu ví a mostra está fraca.

Eu recomendo demais você fazer um planejamento antes de ir, para ver os filmes que estão nas outras salas ou nos cinemas próximos, caso o filme que você entrou esteja muito chato, e assim você pode pular para outra. Outra dica importantíssima é você comprar a Folha de São Paulo de hoje (21/10) para pegar o Guia da Folha, que tem o roteiro completo da Mostra - que aliás, começa no dia 21/10 e vai até 03/11.

O que parece ser bacana na mostra :

- "Good Night, and Good Luck" - filme em P&B, com direção do George Clooney (é, o pior Batman da História e o eterno cara de "E.R.");
- "Além do Azul Selvagem" - do Werner Herzog, que claramente não é desse planeta - aliás o filme é sobre extraterrestres;
- "Factourum" - filme Norueguês / Americano / Alemão. Sem muito motivo, mas adoro filmes de "anti herói";
- "Em minha Terra" - filme inglês, com o Samuel L. Jackson. Deve entrar em cartaz ou ir direto pra locadora;
- "ABC do Amor" - parece ser uma história bobinhas, mas com alguma coisa a mais. Não como um "Meu primeiro amor", mas talvez um "Atração Fatal" com crianças de 10 anos;
- "Todos Contra Zucker" - filme alemão de Anti-Herói;
- "Estrela Solitária" - o novo do Wim Wenders (Asas do Desejo !!!);
- "Guardiões da Noite" - superprodução russa (!?!), que com certeza vai entrar em cartaz (já tem posters até no Cinemark) que está parecendo muito com "Underworld";
- "Seven Swords" - gostou de "Hero" ? "O Tigre e o Dragão" ? "Clã das Adagas Voadoras" ? Então, pode ir tranquilo;
- "Heróis Imaginários" - talvez entre em cartaz também, tem a Sigourne Weaver no papel principal:
- "Shadowboxer" - outro que entra em cartaz, com o Cuba Gooding Jr.
- "Brothers" - filme dinamarquês, que tem cara de óbvio, mas pode surpreender;
- "Manderlay" - a sequência de "Dogville", uma trilogia sobre os EUA feita pelo diretor maluco Lars Von Trier. Vai rolar um hype em cima desse, e não sei se vai direto pra locadora ou entra em cartaz...;
- "Acusado" - outro dinamarquês, com um roteiro que parece bom;
- Os asiáticos : "Sonhos de Cristal", "Blood and Bones", "Nuvens Carregadas", "2046" - muito falado;
- "Cidade Baixa" : a nova aposta do Brasil.

Acho que é isso. Essa lista claro vai mudando de acordo com a necessidade, foi um apanhado por alto só. A medida que eu for vendo - se der - vou mandando por aqui.